quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Exposição 'Remanescentes da Serra' abre nesta quinta-feira



Trabalho de Daniel Calvo retrata comunidade remanescente quilombola Serra do Apon





Integrando a programação do 14º Dia de Castro - festa promovida pelo Lions Clube de Castro e Prefeitura Municipal - será aberta às 9 horas desta quinta-feira (5), na Galeria Ondas do Yapó, no Teatro Bento Mossurunga, a exposição 'Remanescentes da Serra - um olhar para o Quilombo', do fotógrafo Daniel Calvo. A exposição pode ser visitada até o dia 4 de outubro.
São 21 fotos em tamanho 40x60 cm, todas em preto e branco. "Quando eliminamos as cores da fotografia, deixamos a foto mais voltada para as sensações expressadas por quem é fotografado e isso permite um outro olhar sobre a fotografia. Há fotógrafos que dizem que a fotografia em cor mostra a roupa das pessoas, enquanto a fotografia em em preto e branco mostra a alma. Acho que isso define bem o objetivo da sessão de fotos feitas na Serra do Apon, que não era mostrar o que as pessoas usam, mas suas expressões", afirma Calvo.
O fotógrafo aponta ainda que o objetivo da exposição é dar visibilidade não somente à Serra do Apon, mas às comunidades remanescentes de quilombolas de uma forma geral, que fizeram e fazem parte da formação da cultura castrense, aliadas às demais etnias que compõem o município. "A Serra do Apon é uma comunidade afastada da sede do município. Assim, boa parte da população não tem contato com estas famílias ou, em alguns casos, nem sabe que existem comunidades remanescentes de quilombolas em nossa cidade. A ideia da exposição é, despertar nos castrenses o interesse por conhecer melhor a sua história", frisa.
Calvo explica que a exposição é fruto de um projeto já antigo. Tudo começou em 2007 quando ele trabalhava como repórter fotográfico no jornal Página Um. Na ocasião, ele esteve na Serra do Apon fazendo a cobertura fotográfica para matéria que tinha como tema consciência negra. "Esta visita à Serra do Apon rendeu um rico material fotográfico e de texto. Foi um trabalho muito interessante, envolvente. Assim, o material acabou sendo publicado em duas páginas do jornal e teve uma boa repercussão entre os leitores", lembra o fotógrafo, que na época divulgou as fotografias em sites técnicos. "O trabalho teve boa aceitação também entre os profissionais de fotografia", completa.
Um ano depois, em 2008, algumas fotografias feitas por Calvo sobre as famílias da Serra do Apon integraram exposição fotográfica organizada pelo Página Um em comemoração ao aniversário do jornal. "A exposição foi bem visitada e mais uma vez a população fez muitos elogios sobre as imagens. Então fui trabalhando na ideia de produzir uma exposição fotográfica exclusiva da Serra do Apon", frisa.
Esta nova etapa do projeto, enfim, aconteceu em 2013, quando o fotógrafo voltou à Serra do Apon para ampliar seu material. "Assim, a exposição foi organizada com fotos feitas em 2007 e outras neste ano. Algumas fotos deste ano, inclusive, mostram as mesmas pessoas que foram fotografadas há seis anos, e outras foram feitas no mesmo ambiente que as anteriores. Assim, a exposição mostra o que mudou - ou continuou igual - na comunidade ao longo destes anos", exalta.

HISTÓRIA
Embora os escravos estivessem presente em toda a sociedade castrense, é na Fazenda Capão Alto que a comunidade negra era maior. Lá, por vários anos eles viveram em um regime que estava mais próximo de uma comunidade do que de escravidão. Por influência dos religiosos de Nossa Senhora do Monte do Carmo - que assumem a fazenda em 1751 - os escravos desenvolveram uma grande devoção à Nossa Senhora do Carmo, atribuindo à santa a figura de ‘sinhara’. Até que em 1864 a fazenda foi vendida, juntamente com os escravos à firma Gavião, Ribeiro & Gavião, de São Paulo. Nesta época, a fazenda tinha exatamente 232 escravos tendo chegado em algumas ocasiões, a abrigar perto de 300 escravos. Os escravos, no entanto, se negaram a ir, pois alegavam que só fariam o que a santa – sua sinhara – determinasse. Por isso, eles se revoltaram, e organizaram um levante. Alguns foram presos, outros acabaram sendo levados para São Paulo e outros fugiram. Aos redutos afastados dos centros urbanos, que reuniam principalmente escravos negros fugidos, dá-se o nome de quilombola.
Um levantamento da Fundação Cultural Palmares, do governo federal, mapeou 3.524 comunidades quilombolas no Brasil. No Paraná, o Grupo de Trabalho Clóvis Moura reconhece 36 comunidades em 17 municípios. Destas comunidades, quatro estão em Castro: Serra do Apon, Mamãs, Limitão e Tronco.

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