Trabalho de Daniel Calvo retrata comunidade remanescente quilombola
Serra do Apon
Integrando
a programação do 14º Dia de Castro - festa promovida pelo Lions Clube de Castro
e Prefeitura Municipal - será aberta às 9 horas desta quinta-feira (5), na
Galeria Ondas do Yapó, no Teatro Bento Mossurunga, a exposição 'Remanescentes
da Serra - um olhar para o Quilombo', do fotógrafo Daniel Calvo. A exposição
pode ser visitada até o dia 4 de outubro.
São
21 fotos em tamanho 40x60 cm, todas em preto e branco. "Quando eliminamos
as cores da fotografia, deixamos a foto mais voltada para as sensações
expressadas por quem é fotografado e isso permite um outro olhar sobre a
fotografia. Há fotógrafos que dizem que a fotografia em cor mostra a roupa das
pessoas, enquanto a fotografia em em preto e branco mostra a alma. Acho que
isso define bem o objetivo da sessão de fotos feitas na Serra do Apon, que não
era mostrar o que as pessoas usam, mas suas expressões", afirma Calvo.
O
fotógrafo aponta ainda que o objetivo da exposição é dar visibilidade não
somente à Serra do Apon, mas às comunidades remanescentes de quilombolas de uma
forma geral, que fizeram e fazem parte da formação da cultura castrense,
aliadas às demais etnias que compõem o município. "A Serra do Apon é uma
comunidade afastada da sede do município. Assim, boa parte da população não tem
contato com estas famílias ou, em alguns casos, nem sabe que existem
comunidades remanescentes de quilombolas em nossa cidade. A ideia da exposição
é, despertar nos castrenses o interesse por conhecer melhor a sua
história", frisa.
Calvo
explica que a exposição é fruto de um projeto já antigo. Tudo começou em 2007
quando ele trabalhava como repórter fotográfico no jornal Página Um. Na
ocasião, ele esteve na Serra do Apon fazendo a cobertura fotográfica para
matéria que tinha como tema consciência negra. "Esta visita à Serra do
Apon rendeu um rico material fotográfico e de texto. Foi um trabalho muito
interessante, envolvente. Assim, o material acabou sendo publicado em duas
páginas do jornal e teve uma boa repercussão entre os leitores", lembra o
fotógrafo, que na época divulgou as fotografias em sites técnicos. "O
trabalho teve boa aceitação também entre os profissionais de fotografia",
completa.
Um
ano depois, em 2008, algumas fotografias feitas por Calvo sobre as famílias da
Serra do Apon integraram exposição fotográfica organizada pelo Página Um em
comemoração ao aniversário do jornal. "A exposição foi bem visitada e mais
uma vez a população fez muitos elogios sobre as imagens. Então fui trabalhando
na ideia de produzir uma exposição fotográfica exclusiva da Serra do
Apon", frisa.
Esta
nova etapa do projeto, enfim, aconteceu em 2013, quando o fotógrafo voltou à
Serra do Apon para ampliar seu material. "Assim, a exposição foi
organizada com fotos feitas em 2007 e outras neste ano. Algumas fotos deste
ano, inclusive, mostram as mesmas pessoas que foram fotografadas há seis anos,
e outras foram feitas no mesmo ambiente que as anteriores. Assim, a exposição
mostra o que mudou - ou continuou igual - na comunidade ao longo destes
anos", exalta.
HISTÓRIA
Embora
os escravos estivessem presente em toda a sociedade castrense, é na Fazenda
Capão Alto que a comunidade negra era maior. Lá, por vários anos eles viveram
em um regime que estava mais próximo de uma comunidade do que de escravidão.
Por influência dos religiosos de Nossa Senhora do Monte do Carmo - que assumem
a fazenda em 1751 - os escravos desenvolveram uma grande devoção à Nossa
Senhora do Carmo, atribuindo à santa a figura de ‘sinhara’. Até que em 1864 a
fazenda foi vendida, juntamente com os escravos à firma Gavião, Ribeiro &
Gavião, de São Paulo. Nesta época, a fazenda tinha exatamente 232 escravos
tendo chegado em algumas ocasiões, a abrigar perto de 300 escravos. Os
escravos, no entanto, se negaram a ir, pois alegavam que só fariam o que a
santa – sua sinhara – determinasse. Por isso, eles se revoltaram, e organizaram
um levante. Alguns foram presos, outros acabaram sendo levados para São Paulo e
outros fugiram. Aos redutos afastados dos centros urbanos, que reuniam
principalmente escravos negros fugidos, dá-se o nome de quilombola.
Um
levantamento da Fundação Cultural Palmares, do governo federal, mapeou 3.524
comunidades quilombolas no Brasil. No Paraná, o Grupo de Trabalho Clóvis Moura
reconhece 36 comunidades em 17 municípios. Destas comunidades, quatro estão em
Castro: Serra do Apon, Mamãs, Limitão e Tronco.
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